Mindu em perigo: descaso ameaça um dos mais importantes mananciais de Manaus
O Parque Municipal do Mindu, localizado no Parque Dez, Zona Centro-Sul de Manaus é uma importante área de preservação ambiental e se tornou conhecido por funcionar como corredor ecológico urbano, e considerado um dos principais mananciais da região.
Triste fim ecológico
Apesar da sua importância, o local enfrenta ameaças significativas devido ao acúmulo de lixo. Moradores das adjacências e frequentadores reclamam das condições e temem que a poluição comprometa ainda mais o espaço.
“O parque está abandonado, algumas trilhas estão em mau estado e a ponte que antes permitia a travessia está caída. O que antes era referência ambiental hoje se encontra deteriorado”, afirma Max Costa, morador da região e frequentador do parque.
Em um site de avaliações de viagens, uma visitante de fora da cidade elogiou a estrutura do Mindu, mas criticou a poluição do igarapé.
“O parque e bem localizado, de fácil acesso porém é bem triste ver que o rio de lá está tão poluído, sujo, cheio de lixo. Algo precisa ser feito com urgência”, escreveu uma usuária do TripAdvisor.
Limites do rio Negro
O descarte de lixo nos igarapés urbanos ameaça a qualidade da água do rio Negro e a saúde da população. Apesar de seu extraordinário poder de autodepuração a capacidade natural de diluir e decompor poluentes o rio tem limites. Quando a poluição ultrapassa essa capacidade, o equilíbrio ambiental é comprometido.

Monitoramentos recentes do Programa Qualiágua, realizado pela Agência Nacional de Águas em parceria com o governo do Amazonas, revelam que igarapés urbanos que deságuam no rio negro, como o igarapé do Quarenta, chegaram a registrar níveis de oxigênio dissolvido de apenas 0,27 mg/L, valor muito abaixo do ideal para a vida aquática.
Estudos também mostram que a qualidade da água piora nas áreas mais próximas a Manaus: praias como a Ponta Negra apresentaram queda no Índice de Qualidade da Água (IQA) durante a seca, quando o volume de água é menor e a diluição dos poluentes se torna mais difícil.
Esses dados reforçam que, embora o rio Negro tenha grande capacidade de autodepuração, ela não é ilimitada.
A intensificação da poluição urbana pressiona esse processo natural e aumenta os riscos ambientais e de saúde pública.
Acúmulo de lixo ameaça a qualidade da água
De acordo com Gessica Oliveira, coordenadora do Laboratório da Água de Manaus, o acúmulo de lixo nos igarapés pode comprometer a qualidade da água que chega às estações de tratamento.

“O rio recebe as contribuições dos igarapés e quanto mais poluído isso pode altera a qualidade do nosso rio”. Alerta, Gessica Oliveira.
A coordenadora defende soluções integradas: políticas públicas, preservação, coleta seletiva, tratamento de esgoto e conscientização da população.
Captação em profundidade
O especialista em tratamento de água, Marcelo Xavier. Afirma “não há registro de contaminação, já que a capitação ocorre a cerca de 30 metros de profundidade”.

O especialista reforça que a coloração natural do rio Negro impõe desafios ao tratamento, exigindo mais produtos químicos e ajustes constantes, já que pH e tonalidade variam ao longo do ano.
As observações do especialista ressaltam, de forma implícita, a relevância de manter os igarapés limpos, já que a poluição desses afluentes afeta diretamente a qualidade da água e torna o processo de tratamento mais complexo.

Preservação urgente
O Parque do Mindu, além de ser um refúgio natural em meio à cidade, guarda memórias afetivas de gerações de manauaras que caminharam por suas trilhas, contemplaram sua fauna e flora e encontraram no espaço um respiro diante da correria urbana.
“Guardo lembranças de quando os igarapés eram rios limpos, onde podíamos tomar banho e até beber da água, que alguns moradores coavam antes de consumir. Infelizmente, com a chegada dos famosos condomínios, tudo mudou: começaram a despejar seus resíduos nos igarapés, dando início à poluição.” Afirma Graça Oliveira, Professora aposentada.
Permitir que esse patrimônio continue se degradando é aceitar perder não apenas uma área verde, mas parte da nossa própria identidade cultural e ambiental. Essa realidade evidencia os desafios crescentes para a preservação.
A preservação do Parque do Mindu não pode esperar. Cabe ao poder público, às instituições e, principalmente, à sociedade, assumir o compromisso de proteger esse espaço.
Somente com consciência coletiva e ações efetivas será possível devolver ao parque o papel que sempre teve: o de ser símbolo de equilíbrio entre cidade e natureza e fonte de vida para as futuras gerações.
Por: Eduarda Silva, Edite Souza, Suzyane Abreu, Lucas Damião e Raimundo Queiroz.