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Dia Mundial da Poesia: 5 livros da Valer para criar gosto por poemas

Poesia é contemplação do ser. A poesia é um gênero literário fascinante que conquista leitores no mundo inteiro, por seus versos que emocionam e fazem leitores refletir sobre o texto e o poder das palavras.

O gênero literário existe desde a Antiguidade, com nomes como o prestigiado poeta Homero (928 a.C-898 a.C.) da Grécia Antiga, mas sua comemoração se tornou oficial em 21 de março de 1999, quando foi criada, na XXX Conferência Geral da Unesco, em 16 de novembro de 1999, com a intenção de promover a leitura, escrita, publicação e ensino desse gênero literário.

Hoje, em comemoração ao Dia Mundial da Poesia, a editora Valer separou cinco livros essenciais de poesia que vocês precisam conhecer e, sem dúvida, criarão gosto por poemas.

Confira a lista e leiam as obras sem moderação!

Vitral – Cláudio Fonseca

Poeta talentoso, o autor presenteia os leitores com este belo livro. A leitura dos textos nos remete à poesia de Borges, especialmente pela densidade subjetiva, conteúdo reflexivo e referência ao tempo, elemento metafórico da condição humana e da inconstância da vida.

Oferenda

Um acorde suspenso no ar
indica o lugar
que o silêncio cobriu.

Sim,
são rosas negras, que não te convêm.
Porém
aqui estão. E não são tristes – tem matizes
de um vermelho-sangue
tão reais
que nunca viste.
Pode a chuva
desbotá-las
e jogá-las pelo chão.
– Não fiques triste.
Minhas mãos
produzem as negras rosas.

Não, tu não verás
as cicatrizes.

Prelúdio Coral – Tenório Telles

A literatura, nos tempos claros ou obscuros, é mais que um olhar sobre o mundo, uma construção de palavras – é um diálogo e uma atitude reveladora de caminhos e sentidos sobre a vida e sobre o estar no mundo. Prelúdio Coral, de Tenório Telles, é um exemplo desse impulso poético que reveste a linguagem e fundamenta toda a criação literária.

Prelúdio Coral é uma dessas pérolas literárias que, ao surgir em momentos de tensão social, revela-se como uma metáfora viva da condição humana e busca de compreensão, expressas pelo “canto de um pássaro mudo”, em seu silêncio, potencializando o poder transfigurador da realidade pelas palavras que instiga o olhar, aclara o propósito e desvela a experiência como o espaço do aprendizado e da construção subjetiva do ser. Os questionamentos, as angústias e a percepção das contradições e a transitoriedade da existência se manifestam no canto do poeta, iluminando os paradoxos da existência e a inevitabilidade do destino.

Mais do que revelar caminhos e problematizar a realidade, a lírica do autor é um hino à vida e à liberdade. Uma celebração da natureza e das possibilidades construtivas e criativas do ser humano na sua busca de aprendizado, realização e auto entendimento.

No poema “Prelúdio coral”, título também do seu livro mais recente, o poeta informa:

eu venho de longe
de muito longe
da outra margem
da margem além
aquela vista pelos que se perderam
————nos caminhos das águas
nos sertões aquosos do tempo

Silêncio e Palavra – Thiago de Mello

Edição especial comemorativa dos cinquenta anos de vida literária do escritor. Publicado em 1951, “Silêncio e palavra” ocupa um lugar central na obra de Thiago de Mello. Marca a feliz estreia do poeta, que, em reconhecimento ao seu talento, foi saudado com entusiasmo pela crítica da época, merecendo elogios de ensaístas do porte de Álvaro Lins, Otto Maria Carpeaux, Gilberto Freyre, dentre outros. Obra marcada por intenso conteúdo humano, já evidencia toda a força e intensidade poética que marcam a sua poesia.

I
A couraça das palavras
protege o nosso silêncio
e esconde aquilo que somos
Que importa falarmos tanto?
Apenas repetiremos.
Ademais, nem são palavras.
Sons vazios de mensagem,
são como a fria mortalha
do cotidiano morto.
Como pássaros cansados,
que não encontraram pouso
certamente tombarão.
Muitos verões se sucedem:
o tempo madura os frutos,
branqueia nossos cabelos.
Mas o homem noturno espera
a aurora da nossa boca.

II
Se mãos estranhas romperem
a veste que nos esconde,
acharão uma verdade
em forma não revelável.
(E os homens têm olhos sujos,
não podem ver através.)
Mas um dia chegará
em que a oferenda dos deuses,
dada em forma de silêncio,
em palavra transfaremos.
E se porventura a dermos
ao mundo, tal como a flor
que se oferta – humilde e pura – ,
teremos então cumprido
a missão que é dada ao poeta.
E como são onda e mar,
seremos palavra e homem.

Poemas perfeitos para levar no peito – Evandro Lobo

Os poemas, escritos por Lobo, levam o leitor à reflexão sobre o excesso discursivo, característico do nosso tempo – fala esvaziada de significação, sem controle. Em sua aparente despretensão, esta obra suscita muitas questões e, ao mesmo tempo, convida o leitor a uma interlocução sobre a busca, os sentimentos e a precariedade do nosso existir no mundo.

Hoje bem que poderia
ser só mais um dia,
mais que um dia
sem agonia.
Bem que poderia…

Sol de Feira – Luiz Bacellar

O escritor Luiz Bacellar parte das frutas regionais do Amazonas para fazer uma alusão à vida. Sob o sol dourado e duradouro nasce a poesia que fecunda o solo fazendo surgir a beleza das palavras. Esta obra é uma das mais insólitas da literatura brasileira, onde facilmente é encaixada no contexto do trabalho poético-didático. O poeta labora o seu pomar, e, pacientemente, nos ensina a admirar e saborear a rica coleção dos frutos da terra.
Rondel XI
ou do marimari

marimari
em longas trilhas
do tenro limo
doces pastilhas
como obras-primas,
encadernadas
de veludinho,
enfileiradas

nos seus alvéolos,
iguais freirinhas
verdes, deitadas,
nas suas celas
arrumadinhas
e separadas

rondel XIX
ou do jambo

jambo tu és
tão rubicundo
qual se corasses
por todo mundo
tanta vergonha
tu tens na cara:
talvez por isso
és fruta rara

há no contraste
da palidez
da tua polpa
com a tua tez
sabor de espuma
gélida bruma

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