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Dia Mundial do Teatro: conheça sete peças publicadas pela Valer para celebrar a data

O teatro é uma manifestação viva da criatividade e talento, e que, em união entre autor, diretor e atores faz a magia acontecer, quando a peça vira um espetáculo grandioso, rico de verdades. Como disse Sérgio Luiz Pereira, poeta e autor de Cordas da lira:
“O teatro – espelho e palco da realidade de todos os tempos –, nas suas várias vertentes, pode romper tranquilamente com os gêneros tradicionais e dramatizar o absurdo existencial, o que, em outras palavras, nada mais é do que a ‘a vida como ela é’.”,

Ele representa múltiplos segmentos da sensibilidade humana, como a literatura, a dança, as artes plásticas, além da cenografia, da iluminação do palco, até chegar na interpretação propriamente dita.

Nesta segunda-feira (27), comemora-se o Dia Mundial do Teatro e para celebrar a data, a Valer vai indicar sete obras publicadas, de autores amazonenses. Confira:

Nós atados – Nereide Santiago

Este livro foi gerado a partir da peça teatral com o mesmo nome. Ele busca o entendimento e a comunicabilidade entre os homens e os problemas daí decorrentes. Cada personagem mostra a sua face contraditória, o que é próprio do humano.

Na peça, a autora põe em cena a possibilidade do entendimento e da comunidade entre os homens e os problemas daí decorrentes. As personagens parecem perseguir uma busca incansável por meio da revisão de suas vidas. É ao longo de suas trajetórias, ora na ousadia, vacilação franqueza, ora na ironia, no jogo, onde elas mostram as várias facetas de sua identidade contraditória.

Os diálogos alternam-se como num tabuleiro de xadrez, em que a cada lance corresponde um prisma do jogo ou manobra do jogador, mas o que parece estar de fato em xeque é a própria existência das personagens (Ulysses, Jonas, Sabina e Lia, além das demais).

Isto dá o tom às constantes trocas de turno de suas falas, acompanhadas de mudança da iluminação e do foco. Cada lance do jogo corresponde a um leve movimento no espaço cênico, o qual, embora pareça privilegiar o isolamento e o monólogo interior, prima pelo constante esforço em busca do diálogo e
do outro.

Lágrimas de brinquedo – Alfredo Fernandes

Alfredo Fernandes é um dos raros dramaturgos brasileiros que se dedicou ao público infantojuvenil. Não só escreveu para esse público, como também trabalhou para formar novos atores e principalmente plateia interessada em teatro. Este livro é uma evidência de seu compromisso com esse gênero dramático. Escreveu uma tocante história que tem como tema um brinquedo que assume certos atributos humanos.

O autor nos brinda com esta peça teatral escrita nos anos 1950, um momento fértil para o teatro regional, em especial porque foi por meio desse autor que uma nova vertente teatral. Iria ser consolidada. Com uma aparente simplicidade em sua estrutura dramatúrgica, Lágrimas de brinquedo tem o mérito de mostrar o mundo de sonhos da criança, com seus medos e os seus anseios.

Os personagens, saídos da imaginação fecunda de Alfredo Fernandes, transbordam alegrias e preocupações com suas condições físicas e sentimentais. Todos precisamos de carinho e amor, cada brinquedo tem seu jeito de ser, e Fernandes confere uma autonomia a cada um deles como protagonistas no desenrolar da situação sutil em que se encontram.

Amanusmente – Luiz Vitalli

A obra é uma reflexão sobre o processo de colonização vivido no âmbito do universo amazônico. A perspectiva do autor se funda num enfoque crítico sobre a presença da civilização e sua relação com os habitantes nativos da região.

Amanusmente é um trabalho de vanguarda resultado de constantes pesquisas; fomentadas no Pombal Arte Espaço Alternativo Centro Cultural. Trata-se de um texto que se impõe pelo conteúdo reflexivo e pela intensidade humana. Sua leitura é enriquecedora e se toma ainda mais expressiva por meio da respectiva encenação, coisa que hoje em dia é privilégio apenas para pouquíssimos amantes da arte de Molière.

O Homem que marcha – Benjamin Lima

Um dos autores que se destacaram no início do século passado, Benjamin Lima, com O homem que marcha, inscreveu seu nome na dramaturgia brasileira. O enredo gira em torno da temática amorosa, em que o marido enganado arquiteta uma forma de se vingar.

O homem que marcha, de texto antigo, porém de conteúdo sempre moderno, é a farsa em três atos vivida por Henriqueta, Ramiro e Conrado como principais protagonistas. Um texto tão intrigante quanto suas personagens. Vale muito a leitura!

A floresta e os bichos contra o homem-fogo – Custódio Rodrigues

O dramaturgo Jorge Bandeira escreveu na orelha do livro: “Custódio Rodrigues, um guerreiro do teatro amazonense, desde os tempos do Tesc (em todas as suas fases!) joga seu extintor de criatividade neste libelo em favor da vida; e se sua Dramaturgia é infantil no teor literário, é filosófica nos momentos de reflexão dos seres da floresta, em especial na aparição da entidade protetora da floresta, que pela sua sabedoria ancestral encontra uma solução que… Ora, o final eu não vou contar não, “saboreiem” estas páginas e se surpreendam com o vigor teatral deste texto, sempre atual pelo problema abordado e que, graças a Custódio Rodrigues e ao Grupo de Teatro “Américo Alvarez”, que foi o primeiro a levar à cena esta peça, contribuiu para alertar as novas gerações para os perigos que envolvem nosso meio ambiente.”.

É proibido jogar lixo neste local – Wagner Mello

Teatro e realidade. Palavras essenciais para a dramaturgia cáustica de Wagner Mello. Um teatro em que a representação encontra o seu limite. É proibido jogar lixo neste local possui as premissas do labor dramatúrgico de um Plínio Marcos, com seus personagens marginalizados, perdidos entre sonhos e pesadelos.

Existe um proposital deboche nas letras ácidas de Wagner Mello, permeadas por sarcasmo e crueldade. Há um eventual direcionamento em sua verve: descondicionar a mesmice, promover a erupção em mentes adormecidas. Seria uma espécie de benéfica agressão sensorial onde seus personagens, Mário e Fifi, estavam como arautos em uma atmosfera de desolação, neste terreno baldio onde suas vidas não se preenchem na inércia.

As situações deste drama são perpassadas por momentos ora de alegria, ora de tristeza. As palavras são diretas, emergenciais. Pululam referências às banalidades do fugaz cotidiano, o império sensacionalista de uma mídia corroída. A questão sexual é só um detalhe, mas, ironicamente, como dói. É por isso que pensar em Wagner Mello como um Brecht que sobreviveu a Zé Celso, uma energia sempre vitalizada em nossa trajetória teatral, como o próprio Mário, sua personagem, diz: “porque é preciso tentar. E eu vou tentar até o fim. Wagner continua tentando. Evoé, Baco, o teatro é sua vida.

Livro do teatro urbano das mulheres de Lazone – dez dramathurgias Barehs

Esta obra é um retrato quase fiel de uma cidade chamada Lazone, cidade do caos e dos acontecimentos extraordinários, mas que por lá ficam, não ultrapassando as suas fronteiras, estagnam na mente, quando muitos de seus moradores desmemoriados. Segundo o autor, Lazone é um espelho de Manaus dos trópicos que, pela visão teatral e cinematográfica dele, reassume sua particularidade maior: tornar-se uma novela interminável.

Coletânea de peças teatrais. Histórias de personagens ávidas de sonhos, além do caos da cidade antimaterial. Caminham dias intermináveis encadeados em tramas densas e sangrentas, Mundica, a mulher que era a secreta cobra-grande de cinquenta e três; Ambrozhya e sua família de anacrônicos delirantes; o galpão das fúrias do lixo urbano da existência de Amanda Catalatas; a noite intensa de conflitos de Carmem de Lazone, a mendiga de San Sebastian Square, arrastando o amante Crystal Palace; Crysályda Lapella chamando o público para que assista Caruso, no teatro em ruínas sombrias, habitado por Sabine e o vampiro da vingança dos esgotos ingleses; Mercedita, Agatha, Jessica Kristely e a herança maldita; Salomeh e as tarturugas da morte; no cinema Éden, Gilda é espectadora do filme da vida inteira na cidade flutuante, e Dorothy Garland prepara poções mágicas com as plantas da floresta ardente. Almas apaixonadas e cenas amazônicas no pahís brasileiro. Entes humanos na transcendência do céu no imenso palco de Lazone.

Oscar Ramos. Artista plástico e diretor de arte de Cinema e Teatro, disse sobre o autor:

“Sérgio Cardoso, artista plástico, teatrólogo, curador de arte e atuante administrador cultural, a contribuição dele no teatro de Manaus é de suprema importância e a ele todos nós amazonenses muito devemos, sendo a dependência do ambiente manauara a maior característica de sua atuação e, também, seu maior estímulo. Quanto à sua obra como teatrólogo, só tenho a dizer que muito me intriga e me fascina, quando, no decorrer da ação, me dou conta da maneira como ele aceita e interpreta o comportamento humano, como ele dirige o destino de seus personagens que, em meio às maiores tragédias, são levados a situações de enorme comicidade.”.

Wagner Melo. Ator e diretor, ressaltou:

Uma dramaturgia se constrói na continuidade de produção e montagem, senão ela é literatura. Sergio Cardoso construiu a sua após descoberto pelos diretores manauaras. Retratista da família amazonense, tem sua força maior na construção de personagens densos e verdadeiros, expressos em diálogos carregados de dramaticidade e humor.

A sensualidade e o erotismo, outra característica sua como do povo amazônico, tem o dom de jamais chegar à gratuidade ou vulgaridade. Por tudo isso e muito mais, pode ser considerado o grande autor da dramaturgia local contemporânea.

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